É preciso voltar à metafísica de artista por um momento. Recentemente tive provas de uma espiritualidade centrada nas raves, um tipo de manifestação jovem de amor à música eletrônica, como uma forma de unir as pessoas por essa música. Decidem também por uma consciência crítica da realidade, uma intelectualidade viva, não relativizante ou indiferentista, mas livre de ideologias e preconceitos, baseada mais na análise da realidade (seja pelo método marxista puro, seja pelo gramscianismo, mas muito mais seguindo não-oficialmente a escola de Frankfurt). Existem contradições enormes aí.
1-A metafísica de artista não pode existir nessa resposta espiritual, porque tanto o apolíneo é um resultado da moral dita 'nobre' dos aristocratas quanto o dionisíaco é pura embriaguez, hedonismo imoral.
2-Se o novo espírito ravista opta por uma união social, uma identificação entre esses jovens, significa que o hedonismo falhou como uma forma de se chegar ao Uno, falha nem é tanto a relação entre a metafísica de artista e a ontologia dos baladeiros, mas é muito mais deficiente que se chegue a qualquer compreensão de qualquer princípio motor da realidade por essa via. Vê-se o hedonismo como pura estupidez, um exagero dos anseios adolescentes, um querer superficial de prazer, de sentir esse prazer. Embora não haja moral propriamente dita, a nova ética formula uma filosofia espiritualista, portanto, dualista, e distante do caos pagão, embora deveras longe da identificação do monoteísmo. Ainda assim, a dualidade abre um caminho para uma possível identificação...
3-A opção pelo marxismo, seja que corrente for, é pela análise da realidade, é uma opção pela hermenêutica filosófica, um voltar a uma forma materialista de se ver o mundo pelo simples motivo pragmático de adquirir uma espírito histórico-crítico. Mas a dualidade, a espiritualidade, quebra a ideologia, consegue uma originalíssima contra-ideologia e se questiona a si mesma, quase com rigor científico. A dialética é aceita, e com ressalvas, mas o materialismo é rejeitado, ainda que não totalmente. Transita-se dialeticamente entre o Hegel e Marx, mas muito liberalmente. O ponto central, o único critério, é a desmistificação da manipulação psicológica e mental do capitalismo moderno, dessa sociedade robotizada e escravizante, seja pela moda, costumes, moral consumista, seja pelo desprezo a tudo que não é industrializado, esteticamente concebido como ideal.
4-Se há uma ética, não há hedonismo puro. Há equilíbrio entre o idealismo e o materialismo. Tudo, nessa nova visão, é, então, equilíbrio. Isso por si só a aproxima muito do new age astrológico, até do ocultismo, mas não se confina a isso. É um despertar racional de uma pequena parcela de jovens contra a ilusão que o embate de ideologias criou, contra o fanatismo socialista e, principalmente, contra a mentira global da globalização, do capitalismo global.
O que merece melhor detalhamento é o que motivou essa tomada de posição, o que essa visão combate já foi discutido no post anterior e um pouco nesse, e a origem do trance...
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