quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A volta do filho pródigo

Acordando dos meus devaneios idealistas sobre a moral natural e outras sandices intelectuais, fiz-me impor uma revolução dos instintos, o que, diga-se de passagem, nada mais é que uma involução à crisálida. O homem que encontra a luz e a aprisiona dentro de si é pior que um animal, é uma hedionda criatura do diabo, mas compreendam, o diabo é mais humano que Deus. Muito me agrada o diabo, é mais verossímil que os sonhos dos poetas. Nem condeno as viagens solitárias do intelecto e admiro imensamente (aliás, não vejo nada mais além disso) o caminho do solitário, ainda que este pobre animal corra o risco de ser chamado de perturbado, mongolóide ou pior, de anti-social, outra dessas inefáveis ideologias.




Falemos de vida, o pequeno e insólito conflito esquerda-direita tem me arrastado para suas quimeras infantis, seus joguinhos bestas de empurra-empurra, seja pela tradicional combatividade espartana e idealismo religioso dos marxistas, tantos os sindicais da profunda ralé quanto a elite marxiana, parte desse monstro impossível chamado intelectualidade brasileira, quanto pela enervante arrogância e simplismo burguês, com suas manias, seus sonhos de consumo, suas Cocas, Brahmas, Jovem Pan, Globo e aquele perfume de ostentação pseudo-iluminista chamado Veja, além das modelos, atrizes, BBBs e outros amontoados de lixo que nos empurram goela abaixo nas faculdades de ciências sociais, e pela maldita internet e pela monstruosa televisão, para não mencionar que agora perderam o medo de reafirmar suas imposições, de condenar a condenação da usura, falam agora da ditadura militar com menção honrosa, criticam os guerrilheiros como verdadeiros bandoleiros como se o xerife de Sherwood fosse um João Paulo II, e declaram abertamente que temem a futura ditadura lulista (!) e censuram a censura petista (!) como uma nova inquisição, entre outros devaneios e histerias.Retirei-me desse campo de batalha com sérias dúvidas, mas nada que canse minha feiúra ou me deprima sobremaneira.


Historicamente, claro, a minha ignorância de filosofia da história é uma benção, por me permitir ser cético e, por vezes, o ceticismo é uma cruz a se carregar, e uma cruz que salva, como a besta cristã bem sabe. Como assim? Tudo isso não é um só resumo da estrada filosófico-psicológica porque passei desde então? Coisa de 3, 4, 5 meses? É, mas é mais, é um relato da superficialidade discursiva da dita modernidade líquida, e dos neo-iluministas de gabinete, e uma pergunta fácil de calar: porque, Caio, o cristianismo? Lembremos, guerreiros e diminutos leitores, que a atrofia intelectual e moral (se é que me entendem) conduz a um câncer na alma, uma ferida psicológica difícil de cicatrizar. Refugiei-me na Igreja e em suas consolações ‘eternas’, isto é, tive razões práticas também: coisa de festas de fim-de-ano, missa do galo, terços, novenas, e Toynbee demais, e releituras de Santo Agostinho. Enfim, coisa passageira, e que provavelmente me voltará, mas, por enquanto, me contento em explicar que minhas grandes defesas racionais do cristianismo se amparam totalmente no idealismo mais puramente ocidental, logo, não as levem a sério.


Feita minha defesa, fica esse post como um lembrete das conscienciosidade dessa pobre criatura, e que fala tanto de amor, tem de falar de ódio também, mas essa volta ao blog tem de vir carregado de desprezo. Afinal, mentir, eu não minto, pelo menos não nos momentos racionais, isto é, não-cristãos.

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