quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Anseios do homem de hoje

Considerando a falta de perspectiva do homem na pós-modernidade é de se espantar a longevidade das velhas ideologias político-econômicas e seus ridículos embates em arenas menos prosaicas, mais distantes de sua própria origem. Explicar tal fenômeno não é o objetivo dessa postagem, se é que ela tem algum objetivo. Falemos primeiro sobre o que desgasta nossa esperança, nossos anseios mais profudos e infantis.



Não há medo da morte que justifique, ou crise religiosa, ou mesmo a falta de fé nas ideologias, visto que a fé sempre existirá. O que me impede de criar uma igreja em meu nome e me chamar de Deus? Veracidade histórica? Mas não é a verdade que existe nas religiões, é a busca da verdade. Quando se quer buscar a Deus, vamos em uma igreja. Não vamos para encontrá-lo, vamos para buscá-lo, porque não é o estar-em-si que buscamos, mas o devir eterno, a mudança constante de sentimentos, ações, emoções, posturas e estruturas.

Por aí se vê que Deus pode ser considerado mera abstração de um ideal de perfeição, como já dito antes, a vontade humana impulsiona o ser para encontrar-se com o que sua alma crê ser seu reflexo. Como também já disse, a busca de Deus é pura busca do meu eu, não o fantasioso Eu Superior, mas o puro ego. Não vale a pena retomar esse ponto. Mas nele percebemos que a humanidade se satura de descobertas científicas, curas milagrosas, novas religiões e filosofias. Estamos no tempo do Caos.


O homem não mais procura o Cosmo, a ordem, ele deseja o devir, a inconstância, o pré-socratismo. Não lhe interessa mais a racionalidade, a moral abjeta, as visões bem-estruturadas, as cidades bem organizadas, os desejos de paz e felicidade. Ele deseja a dor, o sofrimento, a doença, a selvageria, a violência, o poder, a recusa de tudo que lhe alivia, mantém. ele quer pura e constante transformação caótica, ele deseja o oposto do que busca e só encontra pedaços fedidos de respostas.


Colocando em outras palavras, o homem pós-moderno não sofre de nenhuma falta de perspectiva. Mas suas esperanças estão no que nunca buscou, nunca quis. Ele não percebe, mas começa a sentir um comichão, uma pequena certeza de que não importa quantas luzes encontre, seu verdadeiro sol não é a lâmpada fosforescente nem o Deus sacramentado, mas o Sol de verdade, o brilho natural, a volta aos instintos anteriores, selvagens, belos e incontroláveis. Percebe que não é a ilusória e arrogante razão que o torna próximo do Perfeito, mas só é deus enquanto se tornar mais animal, mais irracional, mais selvagem. E, por isso mesmo, não se importa com o perfeito, o ideal, não mais!

Ele quer ser hedonista, quer ser livre, pensar sobre tudo e dominar, quer controlar e não tem vergonha de admitir, de dominar, matar e destruir. Pode se esconder por trás da ideologia burguesa, mas esta não o controla mais, foi derrubada, assim como a moral. Está morta como Deus está morto. A nova situação nada tem de desesperadora, de retrógrada ou capitalista. Nem a contra-ideologia comunista e a idealidade religiosa podem enxergá-la e lhe fazer frente.Trata-se de algo maior, mais profundo, um despertar para a vida, sem se importar com a nova aristocracia, a nova moral nobre, essa será consequência do seu salto. Esses tempos são os de preparação, de inspirar profundamente, tomar fôlego, dar um salto, um grande salto, o maior salto já dado para a liberdade.


Esses tempos já começaram, enquanto o salto não é dado, não nos entristecemos por saber que a humanidade não reconhece esse grande momento. Ele virá, já está vindo, aliás, e virá não por filosofia, ideologia, ciência, religião, virá naturalmente e grandiosamente, como uma onda que se avoluma prestes a engolir, a engolfar o mundo inteiro, suas ideologias e deuses perecerão. Permanecemos vigiando, que os ignorantes assim permaneçam, eles todos serão libertados, em um tempo que o prazer de viver será ainda maior, muito mais livre. Para os fortes, claro. Só no aguardo... até a hora derradeira, o Grande Meio-Dia.



Nenhum comentário: