quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Ecumenismo como armadilha

Peço que não me entenda mal, Deus meu, e todos os que lêem esses pensamentos. A liberdade de espírito só pode ser dom de Deus, em um sentido mais amplo que mero fruto do Espírito Santo (como se pudéssemos chamar de ‘mero’ qual seja o fruto), é na busca de Deus que se encontra a liberdade intelectual, não se trata de relativismo irresponsável ou mera fuga das exigências do meu caminho religioso esse abraço ao Todo religioso e filosófico.




A liberdade de que falei aqui nasce da busca da plenitude do Eu, se desenvolve a partir da visão, consideração, entendimento e até de certo aprofundamento das multiformes religiões e sistemas de pensamento e de cosmologia. Mas ela não nega, antes assume, até pressupõe uma tomada de consciência, uma visão crítica sobre a sociedade humana e suas maneiras de atingir essa plenitude espiritual através de um ideal. Ideal que considero a plenitude do meu Eu.


Com o processo de autoconhecimento, temos essa busca do meu ideal nas diversas sendas e nos seus diversos níveis. Com a ciência do Eu ideal, escolho uma forma de representação desse ideal, pode ser amplo, como o ecumenismo religioso até o mais estrito, um setor conservadoríssimo de uma Igreja particular, fechado em si mesmo. Seja qual for o meu nível de entrosamento, amor por esse nível, mais meu Eu se limita de acordo com a finitude dessa linha, pouco importando as promessas divinas de eternidade, imortalidade, vida que flui para o Tudo. Por outro lado, quanto mais amplo ele for, mais livre será o meu Ideal, será antes uma busca do auto-aperfeiçoar que uma mera escolha, mas escolha é um termo discutível.


O ecumenismo tem o defeito de relativizar pensamentos e crenças, tornando-os parte da grande revelação do Infinito para nós, que somos finitos e imperfeitos e não compreendemos o Verdadeiro desígnio do Perfeito, e, por isso, lhe damos interpretações mil. Seria essa a gênese da diversidade religiosa. Mas por que isso é um defeito? Sem Verdade Absoluta, não há um Eu ideal nem mesmo uma busca, há uma acédia de comprometimento, de procura, de vida. O conformismo que mata a minha própria noção de Eu, nem sei quem eu sou, já que não sei o que é o mundo ou Deus, perco minhas noções de Todo, já que Eu, Deus são universais, imutáveis, transcendem a matéria. Isso ocorre quando nego qualquer verdade maior, quando tudo é verdadeiro, na verdade digo que tanto faz a verdade, estou perdido em mim mesmo, no mundo e incapaz de dar respostas que me satisfaçam e, pior, nem buscar mais eu quero. Essa morte da religião tem várias formas, irreligião, ateísmo prático, agnosticismo.


O ecumenismo tem as melhores intenções, é sempre a liberdade que almeja, mas pode confundir o respeito pelo outro e mesmo uma saudável liberdade de espírito com uma indiferença mortal, que revela uma preguiça de espírito, de perseverança, uma preocupação materialista, utilitarista que são chagas da hodiernidade. Pensemos então sobre o desafio do verdadeiro ecumenismo: não alterar jamais as diferenças entre as religiões, nem mesmo atenuar as discrepâncias teológicas entre católicos e protestantes, por exemplo. O seu desafio é tornar possível uma verdadeira comunhão entre todos os cristãos e entre estes e os não-cristãos e ateus, contribuindo para promover a liberdade religiosa em sua totalidade, não se esquecendo jamais de sua missão de ajudar a comunidade humana a se desenvolver, e de forma sustentável.


Por isso a missão da Igreja é tão grave, por estar inserida em todo o mundo e sempre evangelizando, há de se discernir fundamentalmente em suas ações catequéticas e missionárias o respeito cultural e o verdadeiro espírito de fraternidade. Cultura que o cristianismo se propõe a desenvolver sem danificar, preservando o que há de bom e belo, e orientando sobre o que há de errado segundo sua ética do bem comum. Um paradoxo enorme para os cristãos de todo o mundo, para todos os crentes, e ainda maior para os espíritos livres.


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